sábado, 28 de janeiro de 2012
SÚPLICA
SÚPLICA – BENEDICTO MONTEIRO
Draga
cava o rio
retira de Mim
estas pedras
Suga de Mim
estas lamas
abre funda vala
pra água poder passar
Não
Não quero morrer de praias
Não quero me encher de arraias
Não quero morrer de lodo
Não quero me encher de mar.
Construção Poética inspirada no romance Primeira Manhã de Dalcídio Jurandir
Marcadores:
Cancioneiro do Dalcídio - Benedicto Monteiro
fragmento do livro AQUELE UM
...Nego as mortes! Nego e renego as mortes, todas as mortes. As mortes de ficar calado, as mortes de ver a água correr, as mortes de ver o rio sempre passar, as mortes gerais dos homens que envelhecem. E nego e renego as mortes. Eu só afirmo a vida. As minhas afirmativas só são de bem-querer, de bem-viver e de bem lutar....
quarta-feira, 25 de janeiro de 2012
O ENTERRO DA BORBOLETA
Era uma louca idéia
Enterrar no chão a borboleta
As cores
As asas
E todo o movimento
Cavou o buraco
Jogou dento o inseto
Cobriu tudo com terra
Mas na hora de responder
Disse que tinha enterrado no chão uma semente
Que semente?
Não!
Não foi uma semente
Foi um mistério.
Construção Poética de Benedicto Monteiro – CANCIONEIRO DO DALCÍDIO - inspirado na prosa de Dalcídio Jurandir – TRÊS CASAS E UM RIO
Marcadores:
Cancioneiro do Dalcídio - Benedicto Monteiro
quarta-feira, 18 de janeiro de 2012
fragmento do livro TRANSTEMPO
"..para viver nesse mundo, não levo muito em consideração espaço que é transponível a cada piscar de olhos e a cada passo. O tempo para mim já não existe mais com suas convenções cronológicas e calendárias. Por isso não tenho história, vivo no agora, como contemporâneo do passado e do futuro."
- Benedicto Monteiro
terça-feira, 10 de janeiro de 2012
Fragmentos do romance “ A Terceira Margem” - terceiro volume da tetralogia amazônica do Romancista Benedicto Monteiro
...A água vinha por todos os lados. Fora das águas também não se enxergava. Eram suas cores negras que molhavam...
...Houve então, a invasão das águas. Parecia que a noite inteira era líquida e se derramava por cima do barco. Pra mim, paresque ficamos balançando por perto dalguma margem. Tanto o tempo não era tempo, como a noite não era noite e mata não era mata. A chuva, de tanto negra que era, tinha ficado meio-branca ou sem cor, paresque. Foi aí que me deu um relâmpago que rasgou o mundo em dois pedaços. Não sei se fogo entrou por dentro de mim ou se fui eu que entrei por dentro do fogo. A luz me cegou de repente e me alumiou inteiro por dentro. O branco da luz virou de novo paresque em todas as cores. Cores vivas, o senhor pensa. E o negro de tanto negro virou de novo numa estranha claridade. Claridade que paresque era mais de pensamento...
...O silêncio era como a luz que a gente não via, mas que também não escutava.
...e, quanto mais eu remava, mais a água ficava da cor da noite, da cor da luz, da cor do céu e da cor do vento. Cismei logo que fosse as maranhas dalgum encante, cobra-grande, boiúna, yara ou encante só da própria água.
...Tudo era espaço e tempo vago. Verde e vago. Verdevagomundo. Fi aí que eu me perdi na mais pura claridade. Era paresque claridade do verde, da água, da noite e do silêncio. Pensei que era a morte, que eu estava morto. Pensei que eu estava bem no fundo. Mas, nesse mesmo instante, neste justo e exato momento, foi que a água e o céu se abriram e surgiu uma praia branca.
Todos os verdes e todas as cores se resumiram naquela praia. E não tinha princípio nem fim. Era uma distancia. Era paresque uma margem...mas uma outra margem.
Assinar:
Postagens (Atom)