quinta-feira, 14 de junho de 2012

Texto do Romance O HOMEM RIO


   ...Depois que me embrenhei na cidade, perdi até a linha da linha-dágua, que era sempre o meu horizonte. A linha dágua, o senhor sabe, era o limite da minha vista e o princípio dos meus sonhos. Nalgumas das minhas caminhadas, eu até conseguia furar essa linha, pra chegar nas beiras das matas. E, enquanto não encontrasse um furo, um igarapé, para andar entre as duas margens, eu sempre ficava areado.
         Mas, havia linhas dáguas que eu nunca tinha ultrapassado. E. por trás dessas linhas ficavam os meus mistérios, e as minhas esperanças. Essas linhas dágua e esses horizontes alimentavam, os meus sonhos. Muito diferente desta cidade grande, onde as margens das ruas são sarjetas, calçadas, casas e edifícios. E onde as águas das chuvas nas ruas, só formam margens paralelas pelas rodas dos carros. Mesmo assim, em alta velocidade, correndo nesses leitos de terra e de asfalto.
    
     O senhor sabe, que houve uma parte da minha vida, como eu já lhe disse, que eu tinha encontrado paresque a terceira margem. Mas até hoje não sei, se foi uma alucinação ou aquele meio afogamento naquela terrível tempestade. Até hoje eu estou em dúvida se foi um encantamento de bicho-do-fundo ou se foi aquele raio, que quase me incendeia todo, e me torna em pedaços. Podia até ser mesmo, uma assombração d’água, daquele enorme e desconforme lago.

Eu sei que eu fiquei alucinado, mas nunca perdi da minha mente a beleza daquela imensa paisagem. Por isso que eu pensei que tinha atingido a terceira margem. Agora eu sei, que não existe a terceira margem. A terceira margem talvez seja o pensamento. Mas no duro, o que existe são outras tantas margens. A cidade grande está me ensinando isso. Em cada praça, em cada esquina de rua, em cada cruzamento, em cada encruzilhada, em cada porta de edifício, em cada entrada de invasão, eu me confronto com outras tantas margens.
         No princípio, pensando que olhando o céu, vendo a lua por cima dos edifícios e o sol nascer ou se pôr por cima das linhas de cimento, eu ainda ia encontrar a grandeza e a beleza do firmamento. Pelo menos, as imensas distâncias, as linhas dágua e as linhas do horizonte, eu achava que eu bem que podia ver, por cima da cidade-grande. Eu achava, que a cidade podia me dar novos sonhos e novas esperanças. 
......

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