...Depois
que me embrenhei na cidade, perdi até a linha da linha-dágua, que era sempre o
meu horizonte. A linha dágua, o senhor sabe, era o limite da minha vista e o
princípio dos meus sonhos. Nalgumas das minhas caminhadas, eu até conseguia
furar essa linha, pra chegar nas beiras das matas. E, enquanto não encontrasse
um furo, um igarapé, para andar entre as duas margens, eu sempre ficava areado.
Mas, havia linhas dáguas que eu nunca
tinha ultrapassado. E. por trás dessas linhas ficavam os meus mistérios, e as minhas
esperanças. Essas linhas dágua e esses horizontes alimentavam, os meus sonhos.
Muito diferente desta cidade grande, onde as margens das ruas são sarjetas,
calçadas, casas e edifícios. E onde as águas das chuvas nas ruas, só formam
margens paralelas pelas rodas dos carros. Mesmo assim, em alta velocidade,
correndo nesses leitos de terra e de asfalto.
O senhor sabe, que houve uma parte da
minha vida, como eu já lhe disse, que eu tinha encontrado paresque a terceira
margem. Mas até hoje não sei, se foi uma alucinação ou aquele meio afogamento
naquela terrível tempestade. Até hoje eu estou em dúvida se foi um encantamento
de bicho-do-fundo ou se foi aquele raio, que quase me incendeia todo, e me
torna em pedaços. Podia
até ser mesmo, uma assombração d’água, daquele enorme e desconforme lago.
Eu sei que eu
fiquei alucinado, mas nunca perdi da minha mente a beleza daquela imensa
paisagem. Por isso que eu pensei que tinha atingido a terceira margem. Agora eu
sei, que não existe a terceira margem. A terceira margem talvez seja o
pensamento. Mas no duro, o que existe são outras tantas margens. A cidade
grande está me ensinando isso. Em cada praça, em cada esquina de rua, em cada
cruzamento, em cada encruzilhada, em cada porta de edifício, em cada entrada de
invasão, eu me confronto com outras tantas margens.
No
princípio, pensando que olhando o céu, vendo a lua por cima dos edifícios e o
sol nascer ou se pôr por cima das linhas de cimento, eu ainda ia encontrar a
grandeza e a beleza do firmamento. Pelo menos, as imensas distâncias, as linhas
dágua e as linhas do horizonte, eu achava que eu bem que podia ver, por cima da
cidade-grande. Eu achava, que a cidade podia me dar novos sonhos e novas
esperanças. ......
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