terça-feira, 10 de janeiro de 2012

Fragmentos do romance “ A Terceira Margem” - terceiro volume da tetralogia amazônica do Romancista Benedicto Monteiro

...A água vinha por todos os lados. Fora das águas também não se enxergava. Eram suas cores negras que molhavam...
...Houve então, a invasão das águas. Parecia que a noite inteira era líquida e se derramava por cima do barco. Pra mim, paresque ficamos balançando por perto dalguma margem. Tanto o tempo não era tempo, como a noite não era noite e mata não era mata. A chuva, de tanto negra que era, tinha ficado meio-branca ou sem cor, paresque. Foi aí que me deu um relâmpago que rasgou o mundo em dois pedaços. Não sei se fogo entrou por dentro de mim ou se fui eu que entrei por dentro do fogo. A luz me cegou de repente e me alumiou inteiro por dentro. O branco da luz virou de novo paresque em todas as cores. Cores vivas, o senhor pensa. E o negro de tanto negro virou de novo numa estranha claridade. Claridade que paresque era mais de pensamento...
...O silêncio era como a luz que a gente não via, mas que também não escutava.
...e, quanto mais eu remava, mais a água ficava da cor da noite, da cor da luz, da cor do céu e da cor do vento. Cismei logo que fosse as maranhas dalgum encante, cobra-grande, boiúna, yara ou encante só da própria água.
...Tudo era espaço e tempo vago. Verde e vago. Verdevagomundo. Fi aí que eu me perdi na mais pura claridade. Era paresque claridade do verde, da água, da noite e do silêncio. Pensei que era a morte, que eu estava morto. Pensei que eu estava bem no fundo. Mas, nesse mesmo instante, neste justo e exato momento, foi que a água e o céu se abriram e surgiu uma praia branca.
Todos os verdes e todas as cores se resumiram naquela praia. E não tinha princípio nem fim. Era uma distancia. Era paresque uma margem...mas uma outra margem.

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