...A água vinha por todos os lados.
Fora das águas também não se enxergava.
Eram suas cores negras que molhavam......
Houve então, a invasão das águas.
Parecia que a noite inteira era líquida e se derramava por cima do barco.
Pra mim, paresque ficamos balançando por perto dalguma margem.
Tanto o tempo não era tempo, como a noite não era noite e mata não era mata.
A chuva, de tanto negra que era, tinha ficado meio-branca ou sem cor, paresque.
Foi aí que me deu um relâmpago que rasgou o mundo em dois pedaços.
Não sei se fogo entrou por dentro de mim ou se fui eu que entrei por dentro do fogo.
A luz me cegou de repente e me alumiou inteiro por dentro.
O branco da luz virou de novo paresque em todas as cores.
Cores vivas, o senhor pensa.
E o negro de tanto negro virou de novo numa estranha claridade.
Claridade que paresque era mais de pensamento......
O silêncio era como a luz que a gente não via, mas que também não escutava....
e, quanto mais eu remava, mais a água ficava da cor da noite, da cor da luz, da cor do céu e da cor do vento. Cismei logo que fosse as maranhas dalgum encante, cobra-grande, boiúna, yara ou encante só da própria água....
Tudo era espaço e tempo vago. Verde e vago. Verdevagomundo.
Fi aí que eu me perdi na mais pura claridade.
Pensei que eu estava bem no fundo.
Mas, nesse mesmo instante, neste justo e exato momento, foi que a água e o céu se abriram e surgiu uma praia branca.
Todos os verdes e todas as cores se resumiram naquela praia.
E não tinha princípio nem fim. Era uma distancia.
Era paresque uma margem...
mas uma outra margem.
Fragmentos do romance “ A Terceira Margem”
- terceiro volume da tetralogia amazônica do Romancista Benedicto Monteiro
Site: www.verdevagomundo.com.br
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