sábado, 4 de fevereiro de 2012

AMAZÔNIA - ME SANGRA MADEIREIRO ILEGAL

AMAZÔNIA

Me sangra, madeireiro ilegal. Pensas que, derrubando uma árvore de grande porte, estás clareando o tempo, penetrando o sol dentro das folhagens? Secando a terra e afastando os verdes pra nunca mais? Quantas árvores menores, plantas, ervas e redes de cipós são mortos nas caídas das árvores derrubadas? Quantas folhas, flores e sementes caem e desaparecem, no ferrenho grito de motosserras? E quanta seiva, látex, lágrimas se espalham sem deixar vestígios na fotossíntese?
A árvore imensa está morta.


Nem deu tempo de escutar o canto dos pássaros, o zumbido dos insetos, o farfalhar das asas minúsculas que conduzem o polem. Nem deu tempo de escutar os estalidos dos cipós, quebrando os seus mil torcidos de ramagem. Nem deu tempo de sentir a respiração das folhas e das flores. E o vento e o sol e a chuva, que cobriam todos os galhos? Como vão pousar, soprar e cair no clarão da floresta? Golpes de machados e rangidos de motosserras ficarão sendo sons iníquos, enquanto o suave filtrar da mata virgem se cruzará com o suor dos operários.

Quem é capaz de comparar a vida de sacrifício dos desmatadores, no trabalho escravo, vítimas dos desgovernos, no centro da mata mais longe e mais espessa, com o sacrifício da vida de todos os outros seres? Quantos morrem?
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Quantos morrem nos golpes dos machados e de motosserras? E depois, quando o fogo queima o resto da mata em terríveis labaredas? O vento, aí, mistura-se com o fogo e penetra em todos os vãos da mata esquartejada. Tudo deixando a terra negra sangrando de secura.

Será que nunca um madeireiro ilegal conseguiu conceber o sacrifício da mata, o estertor de uma floresta, a agonia das pequenas plantas? Será que ele nunca conseguiu ouvir o tremor da terra, que é arrancada das suas mais íntimas entranhas? E os rios, os furos e igarapés que perdem a sua cobertura e secam cada vez mais com o sol? Não sei que concepção os madeireiros têm da Vida. Será que eles pensam apenas que a sua vida é a única e primeira? E que só  ela tem a permissão de viver neste planeta?

Rios que deságuam com as balsas cheias de madeira roubadas, estradas que se abrem para os tratores e para os caminhões penetrarem e devassarem as florestas. Florestas que se extinguem para dar lugar aos serrados, ou aos campos de capim plantados para o gado. Deixam manchas, áreas enormes, despidas das vidas visíveis e invisíveis, vidas das milhares vidas da biodiversidades. Aviões que pousam em aberturas escondidas das matas, e estradas que só os tratores podem passar.

 Tu que me sangra, me queima e me mata, madeireiro ilegal.
Enquanto os governos e os fiscais se debatem entre papeis burocráticos ou recebem o dinheiro para deixar a madeira passar, o meu corpo, aqui na Amazônia é imenso e sofre.  
As cidades devem ser construídas  com os homens para durar  e perdurar para as gerações futuras.
Enquanto tu me sangras. a vida visível e invisível das matas virgens é roubada ou soprada com os ventos e queimada pelo fogo ou pelo sol.  Eu  já sinto falta das chuvas para mim, para os homens e para os rios que vão secar.

Benedicto Monteiro

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