Longe, bem longe
Existe a Terra de meu nascimento
Encharcada de água
De mata e de luz!
É a Terra verde, a Terra Moça
Que sofre a insatisfação
Do grande rio
Que procura insatisfeito:
Verdes campos, verdes leitos
E as lagoas policromadas
De cortinas verdes
E janelas azuis!
Mas, a Criação
Deu uma vida estranha
A esse rio gigante
Que tem uma montanha
Para repouso da cabeça
E que tem o mar
Para o descanso
Dos seus grandes pés
Deu paredões
P'ra ele brincar de saltos
E deu a tristeza
E a serenidade soturna
E manhosa dos igarapés
Deu praias lindas
Brancas e morenas
Pra ele brincar
E beijar impetuosamente
Com suas ondas formadas
Pelo vento
Deu mangues verdes, sombreados
Onde ele deve passar
Cochichando baixinho
E sonolento
Planícies verdes
Alcatifadas de flores
Chuvas de asas
E plumas multicores
Como tapetes mágicos
Descendo do infinito
Deu muitas sensações extremas:
Desde o limo aveludado
Das margens tristes e serenas
Até à lage faiscante de granito
Mas o rio, o grande rio
Que esconde monstros no seu leito
Prefere ficar assim insaisfeito
Brincando de jujú com as ilhas
Que aparecem e desaparecem
Nos igarapés
Prefere não ter uma pedra
Para repouso da cabeça
E empurrar o mar
O grande mar
Eternamente com seus grandes pés...
Benedicto Monteiro
Assinando
Benedicto Vilfredo
Bandeira Branca
Editora Zelio Valverde
Rio de Janeiro
1945
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