sábado, 4 de fevereiro de 2012

IDÉIAS DO RIO MAR







Longe, bem longe 

Existe a Terra de meu nascimento 

Encharcada de água 

De mata e de luz! 



É a Terra verde, a Terra Moça 

Que sofre a insatisfação 

Do grande rio 

Que procura insatisfeito: 

Verdes campos, verdes leitos 

E as lagoas policromadas 

De cortinas verdes 

E janelas azuis! 



Mas, a Criação 

Deu uma vida estranha 

A esse rio gigante 

Que tem uma montanha 

Para repouso da cabeça 

E que tem o mar 

Para o descanso 

Dos seus grandes pés 

Deu paredões 

P'ra ele brincar de saltos 

E deu a tristeza 

E a serenidade soturna 

E manhosa dos igarapés 



Deu praias lindas 

Brancas e morenas 

Pra ele brincar 

E beijar impetuosamente 

Com suas ondas formadas 

Pelo vento 

Deu mangues verdes, sombreados 

Onde ele deve passar 

Cochichando baixinho 

E sonolento 



Planícies verdes 

Alcatifadas de flores 

Chuvas de asas 

E plumas multicores 

Como tapetes mágicos 

Descendo do infinito 

Deu muitas sensações extremas: 

Desde o limo aveludado 

Das margens tristes e serenas 

Até à lage faiscante de granito 



Mas o rio, o grande rio 

Que esconde monstros no seu leito 

Prefere ficar assim insaisfeito 

Brincando de jujú com as ilhas 

Que aparecem e desaparecem 

Nos igarapés 

Prefere não ter uma pedra 

Para repouso da cabeça 

E empurrar o mar 

O grande mar 

Eternamente com seus grandes pés... 



Benedicto Monteiro 

Assinando 

Benedicto Vilfredo 

Bandeira Branca 

Editora Zelio Valverde 

Rio de Janeiro 

1945

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